Intolerância à lactose

De InfoSUS
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1. O que é intolerância à lactose?

Intolerância à lactose é a incapacidade de digerir a lactose (açúcar do leite). O problema é resultado da deficiência ou ausência de uma enzima intestinal chamada lactase. Esta enzima possibilita decompor o açúcar do leite em carboidratos mais simples, para a sua melhor absorção. A lactose é o açúcar de quase todos os leites. Quando ingerimos, esta substância é quebrada em dois açúcares menores (galactose e glicose) que são absorvidos no intestino delgado, alcançam a corrente sanguínea e então são utilizadas como fonte de energia pelas. Quando a lactose não é digerida, há deficiência parcial ou total da lactase, alcança o intestino grosso (cólon). As bactérias do cólon metabolizam a lactose absorvida em gases que são responsáveis pelos sinais e sintomas da intolerância à lactose. É importante estabelecer a diferença entre alergia ao leite e intolerância à lactose: A alergia é uma reação imunológica adversa às proteínas do leite, que se manifesta após a ingestão de uma porção, por menor que seja, de leite ou derivados. A mais comum é a alergia ao leite de vaca, que pode provocar alterações no intestino, na pele e no sistema respiratório (tosse e bronquite, por exemplo).

1.1. Tipos de Intolerância à lactose:

Existem três tipos de intolerância à lactose de causas diferentes:

  • Hipolactasia do “tipo adulto”. Ocorre na maioria da população mundial adulta, com incidência variável dependendo da localização e raça. Apenas 2% apresentam sintomas graves de intolerância à lactose. No Brasil estima-se em 40% das pessoas apresentam hipolactasia do “tipo adulto” que se inicia após os 3 anos de idade. Manifestações clínicas mais graves- pode ser observada progressivamente nas pessoas mais velhas. A intolerância à lactose em pessoas com hipolactasia do tipo adulto é uma doença de natureza genética e ocorre em pessoas com predisposição.
  • Intolerância congênita à lactose. Muito rara, impede o aleitamento materno exclusivo e manifesta-se logo após o nascimento. O recém-nascido tem que ser alimentado com uma fórmula para lactentes sem lactose. Trata-se de uma doença genética muito rara.
  • Intolerância secundária à lactose. Doença adquirida, se deve a algumas entidades que causam lesões ao intestino delgado. Ocorre deficiência temporária de lactase que após períodos de tempo variáveis retorna aos valores normais uma vez controlados os fatores desencadeantes. Diarreia causada por gastroenterite viral, giardíase, alergia ao leite bovino, doença celíaca e doença de Crohn são as principais. Também pode ocorrer em bebês prematuros, ainda incapazes de produzir lactase em quantidade suficiente.


2. Quais são as causas da intolerância à lactose?

- deficiência congênita da enzima: a criança nasce com um defeito genético que impossibilita a produção da lactase;

- diminuição na produção da lactase em conseqüência de doenças intestinais;

- deficiência primária: ocorre diminuição da produção da lactase como conseqüência do envelhecimento. Esse fato é mais evidente em algumas raças como a negra (até 80% dos adultos têm deficiência) e menos comum em outras, como a branca (20% dos adultos).


3. Quais são os sintomas da intolerância à lactose?

As manifestações clínicas são mais ou menos intensas dependendo da quantidade de lactose ingerida, transito intestinal, idade do paciente e expressão do gene responsável pela síntese de lactase. Aparecem entre 30 minutos a 2 horas após a ingestão de laticíneos. As mais comuns são: inchaço abdominal, cólicas, gases, flatulência, diarreia, assaduras, náuseas, vômitos, cãimbras e algumas vezes constipação intestinal.

Os sintomas mais comuns são náusea, dores abdominais, diarréia ácida e abundante, gases e desconforto. A severidade dos sintomas depende da quantidade ingerida e da quantidade de lactose que cada pessoa pode tolerar. Em muitos casos pode ocorrer somente dor e/ou distensão abdominal, sem diarréia. A peristaltase, ou seja, o movimento muscular que empurra o alimento ao longo do estômago pode influenciar o tempo para o aparecimento dos sintomas. Apesar de os problemas não serem perigosos eles podem ser bastante desconfortáveis.


4. Como é realizado o diagnóstico da intolerância à lactose?

O diagnóstico desta intolerância alimentar pode ser:

• Clínico. Retira-se todos os alimentos com lactose da dieta e os sintomas acabam em dias ou semanas. Trata-se do procedimento mais empregado.

• Teste respiratório para pesquisar eliminação de hidrogênio em amostras de ar expirado. A lactose não absorvia é fermentada no cólon levando à produção de hidrogênio sendo que parte deste gás é absorvido pelo intestino, alcança a corrente sanguínea e é eliminada no ar expirado dos pulmões em concentrações aumentadas.

• Teste de tolerância à lactose. Após a ingestão de lactose, pessoas sem esta doença apresentam elevação da glicemia (glicose formada pela quebra da lactose) a valores maiores que 20 mg/dL em relação ao jejum. Estas variações não são observadas nos intolerantes.

• Teste genético. Quando se suspeita de intolerância primária ou congênita à lactose é possível avaliação gênica para detectar a presença de mutações que proporcionam a característica de persistência da produção de lactase e tolerância à lactose.


5. Qual o tratamento para intolerância à lactose? A intolerância à lactose não é uma doença. É uma carência do organismo que pode ser controlada com dieta (restrição de alimentos com lactose na alimentação) ou com o uso de enzima lactase. O tratamento consiste na redução da ingestão de lactose presente em laticínios. Este procedimento costuma ser suficiente. Quanto mais intolerante for a pessoa, menor deve ser a quantidade do açúcar ingerido para que não ocorram sintomas. Saber se o alimento tem lactose e em qual teor é fundamental para o paciente. Para os casos mais graves, encontra-se leite e outros produtos com redução de 80% a 90% da lactose. No Brasil, muitos alimentos industrializados não têm informação sobre a presença de lactose e seu teor. O Projeto de Lei 2663/2003, que obriga que esta informação esteja nos rótulos, está na Câmara dos Deputados há mais de 15 anos. Existem medicamentos com a enzima lactase para o uso quando for preciso ingerir lactose em situações especiais. Esta enzima é encontrada em apresentações de pó, pílulas ou liquido e deve ser ingerida logo antes do alimento para a digestão da lactose.


6. Quando o uso de fórmulas infantis é recomendado?

Crianças entre 0 e 12 meses de idade

Conforme a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), é indicado o uso de fórmulas infantis especiais sem lactose desenvolvidas para lactentes (crianças até 12 meses). Estas fórmulas têm composição bastante semelhantes às demais fórmulas infantis para a faixa etária, porém, são isentas de lactose em sua composição. A SBP não considera o leite de vaca (in natura, integral, em pó ou fluido) um alimento apropriado para crianças menores de 1 ano. As inadequações do leite de vaca são relativas:

• às gorduras - contém baixos teores de ácidos graxos essenciais; • carboidratos- quantidade é insuficiente quando o leite é diluído a 2/3, sendo necessário o acréscimo de outros açúcares, com elevado poder cariogênico;

• proteínas - fornece altas taxas, com consequente elevação da carga renal de soluto e risco de desenvolvimento de obesidade no futuro. Apresenta relação caseína-proteínas do soro inadequada, comprometendo a digestibilidade.

• minerais e eletrólitos- fornece altas taxas de sódio, contribuindo para a elevação da carga renal de soluto, deletéria principalmente para os recém-nascidos de baixo peso. • vitaminas: baixos níveis de vitaminas D, E e C.

• oligoelementos: são fornecidas quantidades insuficientes, com baixa biodisponibilidade de todos os oligoelementos, salientando-se o ferro e o zinco.

Crianças entre 1 e 2 anos de idade

Segundo a SBP, não há necessidade do uso de fórmula infantil, para crianças saudáveis, na ausência do aleitamento materno. Deve ser incentivada a ingestão média de 600 mL de leite de vaca, assim como de outros derivados (iogurtes caseiros, queijos), para garantir correta oferta de cálcio. Cuidado com a substituição das refeições principais por leite. O consumo superior a 700 mL de leite de vaca integral, nessa faixa etária, é importante fator de risco de desenvolvimento de anemia carencial ferropriva. A partir do primeiro ano, os lactentes podem ser estimulados a tomar iniciativa na seleção dos alimentos e no modo de comer. Devem ser oferecidos alimentos variados, saudáveis e em porções adequadas.

Considerando que a Intolerância à lactose não é uma doença, mas sim uma carência enzimática do organismo, as crianças a partir de 1 ano de idade podem consumir leite de vaca sem lactose, amplamente comercializado em supermercados e comércios de venda de alimentos, com custo próximo ao leite de vaca comum e bastante inferior às fórmulas infantis.

6.1 As fórmulas infantis sem lactose estão padronizadas e incorporadas no SUS?

As fórmulas infantis sem lactose (para lactentes – 0 a 11 meses e 29 dias), como nomes comerciais de NAN SEM LACTOSE (Nestlé), APTAMIL SEM LACTOSE (Danone), não estão padronizada em nenhum dos programas do Ministério da Saúde, o qual é responsável pela seleção e definição dos medicamentos/insumos a serem fornecidos pelos referidos programas. Compete à CONITEC, vinculada ao Ministério da Saúde, elaborar os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, com base em evidências científicas, para tratamento do paciente. Neste sentido, informa-se que as referidas fórmulas infantis, por não estarem padronizadas, não são fornecidas pelo Estado. Alguns municípios já possuem Programas voltados ao atendimento integral das crianças, incluindo fornecimento de leites e hidrolisados proteicos.

Referências

Intolerância à lactose. Biblioteca Virtual da Saúde. Ministério da Saúde. 2016 Acesso em 03/03/2023.

Intolerância à lactose. Sociedade Brasileira de Pediatria. 2017 Acesso em 03/03/2023.