Método Pediasuit/Therasuit

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Sobre a Paralisia Cerebral (PC)[editar]

[A paralisia cerebral (PC) é a síndrome clínica resultante da lesão estável do sistema nervoso central que se estabelece no seu período de desenvolvimento. As principais causas são a prematuridade e problemas ocorridos durante ou junto ao período de parto, mas pode também decorrer de infecções materna e/ou neonatais, intoxicações ou problemas ocorridos no desenvolvimento fetal. Assim como as demais doenças que envolvem alterações no sistema nervoso central, são variadas as suas manifestações clínicas. Na PC o comprometimento motor assume formas variadas, podendo ter como distúrbios associados alterações de ordem: sensorial, cognitiva, intelectual, linguagem, entre outras. Assim, os programas terapêuticos devem ser suficientemente flexíveis para ajustar-se às particularidades de cada indivíduo. Além disso, é necessário levar em consideração uma ampla gama de fatores pessoais como idade, grau de desenvolvimento pré-mórbido, presença de outras doenças ou múltiplas deficiências, bem como fatores ambientais, entre os quais a disponibilidade de uma rede familiar e de saúde para o atendimento, recursos educacionais e de inclusão na sociedade e acessibilidade aos dispositivos de vida social e cívica interferem substancialmente na aquisição de ganhos funcionais e participação na vida de relacionamento. O tratamento da criança com PC é multidisciplinar envolvendo vários profissionais: médico de várias especialidades, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, pedagogos. Além das consultas para esclarecimentos diagnósticos e orientações sobre condutas domiciliares, são necessárias intervenções de natureza variada, tais como: tratamento medicamentoso, bloqueios químicos, uso de órteses, cirurgias sobre o aparelho locomotor e sistema nervoso, os quais são disponíveis na rede pública de saúde. A escolha dos profissionais que atenderão a criança e da conduta a ser tomada deve ser feita com base em evidências científicas e opiniões de colégios internacionais de especialistas.


Fundamentação e Técnicas de Reabilitação Neuronal[editar]

A reabilitação neurológica é embasada no conceito de neuroplasticidade, bastante estudada nos últimas décadas. Diz respeito a capacidade do sistema nervoso se reorganizarem funcionalmente após uma injúria ou diante de uma lesão, e pode ser estimulada por diferentes técnicas. A neuroplasticidade neuronal é tão instigante que, muitas vezes, um estímulo específico para auxiliar numa desabilidade pode melhorar outra debilidade - por exemplo, estímulos motores podendo auxiliar no desempenho linguístico em síndromes afásicas, e atividades físicas prevenindo e mesmo melhorando quadros demenciais. Mas a reabilitação neurológica não se restringe ao que é aplicado dentro dos serviços. Os profissionais devem auxiliar o paciente e familiares quanto à exposição frequente a estímulos que auxiliam na neuroplasticidade. Os domicílios, locais de trabalho e outros ambientes de uso frequente devem ser adaptados para a melhor utilização dos pacientes, visando ao mesmo tempo independência e estímulo neuronal. Modificações podem envolver ampliação de portas e passagens, instalação de barras de apoio em banheiros e outros ambientes, etc. - a ambientação do paciente é um determinante importante para recuperação dos déficits. Entre os inúmeros métodos de reabilitação física, especialmente, por lesões neurológicas, alguns que foram difundidos por seus idealizadores se tornaram mais conhecidos, tais como "Bobath", "Doman-Delacato", "Rood", "Petö", "Temple-Fay", "Voyta", "Phelps", "Knott", etc, cada técnica com alguma variação dentro das suas concepções neurofisiológicas. Existe até mesmo a "Wii Reabilitação" é a denominação que tem sido empregada à utilização do "videogame Nintendo® Wii. É fundamental que a família seja esclarecida adequadamente sobre os possíveis benefícios e prognóstico da aplicação de qualquer método. Também, que os familiares participem da terapia, além da que seja realizada pelo fisioterapeuta. Ao paciente e família deve ser adequadamente explicado o que lhe será oferecido, a finalidade e o prognóstico, redução do custo, da monotonia da repetição diária. As vezes férias são necessárias. A atuação reabilitadora deve sempre ser aplicada por uma equipe multidisciplinar.(Neurologista, Ortopedista, Fisioterapeuta, Fonoaudiólogo, Terapeuta Ocupacional, Pediatra e Psicólogo), de acordo com as disfunções. Conforme o conselheiro do CRM/PR, Dr. Ehrenfried Othmar Wittig, de cujo parecer embasou embasou muitas das informações que se seguem, "nenhum método é curativo, tem um grau de resolução variável, especialmente, com a intensidade e localização da lesão e, basicamente, sempre a longo prazo. Não existem métodos mágicos ou milagrosos".

Método PediaSuit/TheraSuit[editar]

O método de Reabilitação Neurológica “PediaSuit” é de concepção mais recente, diz-se desenvolvido inicialmente, pelos russos, para apoio e superação dos astronautas, por apresentarem pela permanência prolongada nos seus voos, sem atividades físicas, dificuldades motoras com atrofias, contraturas musculares, esqueléticas ou articulares. Foram criadas algumas vestimentas em aproximadamente 1970, que receberam gradativas modificações até a evolução atual no “PediaSuit”. Os USA participaram das melhorias, modificações e evolução terapêutica desta parte técnica. A parte da especialidade do método “PediaSuit” (também denominado de "THERATOGS" ou "THERASUIT", de uso mais interessante em crianças entre 01 e 08 anos, tem como componente básico uma vestimenta terapêutica padronizada, um “macacão” composto especialmente para crianças, de uma blusa, colete, short, joelheira, calçado, touca protetora e ainda um conjunto de cordões elásticos de borracha, uma armação retangular, como uma gaiola metálica, quadriculada e quadrangular (spider). As crianças têm a vestimenta ajustada e adaptada com velcros. Os cordões elásticos, aproximadamente 4 de cada lado, sustentam o corpo do paciente, em posição ereta, de bipedestação. Cada fio é mantido preso na parte externa, na gaiola e, o outro, interno na vestimenta da porção corporal, o que permite ao paciente permanecer em bipedestação, manter-se e desenvolver a noção do corpo em pé e coordenação, como de formular a locomoção, assim como, o tratamento fisioterápico de outros movimentos globais ou parciais. A armação permite à criança e, ao fisioterapeuta, atuarem na sua porção central da armação, com sua vestimenta e elásticos interligados, como uma “órtese alongável”, uma “órtese mole”. Outra variante é o sistema Theratogs, conhecido como roupa terapêutica, que propõe a reeducação do sistema neuromuscular, a promoção da estabilidade de tronco e das articulações e o auxílio na organização do movimento. A fisioterapeuta americana Beverly Cusick desenvolveu este método com a intenção de prolongar os efeitos das sessões de fisioterapia motora no dia-a-dia. As terapias intensivas com o uso de vestes especiais, cordas elásticas e unidades de terapia universal são consideradas apropriadas para o tratamento de indivíduos de 2 anos de idade até a idade adulta. Isto porque a participação motora ativa do paciente é um dos princípios dessas terapias. Cada método, pelas váriações técnicas, pelas diferentes lesões causais, não permitem que seus resultados sejam comparáveis entre si, em virtude das diferentes etiologias, topografias e quadros clínicos em diferentes sequelas. A real frequência das sessões terapêuticas, tem grande influência e importância no resultado, pelo que a aplicação diária ou semanal, proporcionam maior chance de um resultado mais satisfatório, o qual pode ser sempre variável em cada paciente e em cada caso. As dificuldades ou limitações das terapêuticas fisioterápicas ou outras, podem determinar reduções ou limitações dos benefícios. A fisioterapia atua desenvolvendo e melhorando a força, amplitude, alongamento musculoarticular, ação vestibular, equilíbrio, tônus, sensibilidade superficial e profunda (artrestesica ou proprioceptiva), funções dos órgãos dos sentidos, funções cognitivas etc. Através dos exercícios repetitivos, específicos, procura-se desenvolver novos caminhos para as vias anatomo-funcionais do sistema nervoso e de acordo com o objetivo, procurar desenvolver suplências funcionais dos neurônios, tentando também substituir as vias parcialmente comprometidas, melhorar as alterações decorrentes do desuso, da falta de estímulos, pouca ou reduzida atividade na vida diária. Fisioterapeutas aplicam estes métodos e outros por recomendação médica, nas sequelas dos AVC, Paralisia Cerebral, Paraplegias, Hemiplegias, Artropatias, Miopatias, Hipoxia, Traumas, Deficiências mentais etc., ampliando novas indicações. Cada um dos vários métodos apresenta variações do material técnico, acessórios, tendo um custo econômico maior ou menor (como bola, roupagem, sapato, tatame, armações, canulas, orteses, próteses com vários objetivos facilitadores ou apoiadores as disfunções. Mesmo sendo um método útil nas disfunções, o “PediaSuit”, tem boa indicação nas lesões e disfunções neurológicas, mas não devemos relegar a importância que continuam tendo os outros métodos já citados e disponíveis no nosso meio. Os métodos, no geral, utilizam partes, se mesclam, combinam, misturam com associações entre si, de acordo com o interesse específico da disfunção. Os princípios de atuação das técnicas reabilitadoras, da fisioterapia e neurofisiologia, se associam, mesmo tendo variações. A função do corpo humano é sempre igual, variando nas disfunções e lesões. Cada método utiliza mecanismos ou meios que complementam a cinesioterapia, principalmente no alongamento das retrações, osteoarticulares, desenvolvimento da forma e coordenação com acessórios de uso ou treino, de botas, elásticos, roldanas, cordas, roupas especiais, armações, etc. A equoterapia, p. ex., têm sido há anos, usada como complementação à fisioterapia por longos períodos. Quanto mais sessões e variações são programadas e executadas, melhor, em regra os resultados, que devem ter apoio, principalmente, de familiares e técnicos. Especificamente a Pediasuit, Theratogs ou Therasuit, são meios, como outros, capazes de produzir benefícios aos pacientes limitados neurologicamente, articularmente ou musculusarmente. A associação de elementos (acessórios) em cada método é um procedimento adequado, desejável e comum na prática a bastante tempo. É importante salientar que o Método PediaSuit® está vinculado a uma marca empresarial, a ”Therapies 4 kids”, com sede na Flórida, Estados Unidos da América (EUA). Portanto, ressaltamos que ao fazer referência ao Método PediaSuitTM, faz-se menção a uma marca empresarial específica. Ocorre que existem disponíveis no mercado (nacional ou internacional) programas e equipamentos semelhantes ao Método PediaSuitTM, como os do Método TheraSuit® (Therasuit LLC company, EUA) e Adeli Suit®, República Eslováquia. O protocolo terapêutico do PediaSuitTM é uma terapia intensiva, com uma abordagem holística para o tratamento de indivíduos com distúrbios neurológicos, como PC, atrasos de desenvolvimento, lesões cerebrais traumáticas, autismo e outras condições que afetam as funções motoras e/ou cognitivas de uma criança. O mesmo pode ser dito do TheraSuit Método®, criado por Richard e Izabela Koscielny (fisioterapeutas e pais de uma filha com PC), uma abordagem holística para tratamento daqueles que sofrem com distúrbios neurológicos, como a PC, o atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e as lesões cerebrais traumáticas. Baseia-se num programa de exercício intenso e específico. Consiste no uso de vestimenta com elásticos para provocar tensão localizada ou suspensão da criança, usando um protocolo de terapia intensiva de duração de 3-4 semanas em sessões diárias de 3 horas, 5 dias na semana, que pode ser aplicado tanto em bebês quanto em pacientes adultos (http://suittherapy.com).


Tratamento no SUS[editar]

Tanto o tratamento de “Pediasuit” quanto o “Therasuit” não são padronizados no SUS visto que não existem evidências científicas para tal procedimento, e o custo-benefício para um hospital público é contraproducente. Lamentavelmente, apesar de parecerem sistemas lógicos de estimulação, não há evidência suficiente para garantir a proposição dessas intervenções. A recomendação para o seu uso parte apenas dos próprios terapeutas que realizam esses tratamentos e está, claramente, contaminada por um conflito de interesses. (Ver em Reabilitação Neurológica sobre mais detalhes de terapias disponíveis no SUS).


Embasamento científico[editar]

O conceito de evidência científica substitui há décadas as propostas diagnósticas e terapêuticas baseadas exclusivamente na racionalização. A experimentação clínica com metodologia rigorosa possibilitou a identificação de intervenções do setor de prestação de serviços de saúde que causavam mais danos do que benefícios, ou cujos benefícios não se justificavam ao longo do tempo ou em função dos custos envolvidos. Isso permitiu a tomada de decisões fundamentadas por conhecimento sólido e não por simples impressões sujeitas ao juízo de valor do profissional de saúde. Numa escala de força das evidências clínicas encontram-se de um lado os relatos de um grupo pequeno de pacientes, que representam o menor nível de evidência, em contraposição aos estudos com grupos controle de comparação e cuidados para evitar a avaliação subjetiva dos resultados, despontando no extremo com a melhor evidência. Nas três últimas décadas, vem se tornando mais reconhecidas as revisões sistemáticas e metanálises, que classificam o grau de evidência dos estudos e compilam suas informações, oferecendo as melhores conclusões sobre determinados temas do atendimento à saúde.

A concessão de terapias sem respaldo científico pelo poder público para casos individuais é entendida, de forma errônea, como uma solução salvadora. Porém, na realidade, além de não cumprir o papel salvador se torna prejudicial à população em virtude da canalização de recursos para situações individualizadas em detrimento do coletivo. Com a finalidade de discutir a indicação dos recursos “Pediasuit” e “Therasuit” seguem algumas reflexões fundamentadas na literatura científica atual:

- Em seu artigo de 2010, Bailes descreve a pequena evolução que crianças com paralisia cerebral apresentaram com a intervenção intensiva (4 horas por dia, 5 dias por semana ao longo de 3 semanas), indicando que quando as crianças já atingiram o seu platô de desenvolvimento neuropsicomotor, não é por meio de aumento da frequência e intensidade das intervenções terapêuticas que se obtém ganhos funcionais.

- O mesmo autor em 2011 dividiu vinte crianças com paralisia cerebral em dois grupos que foram tratados com Therasuit ou uma vestimenta convencional e submetidas ao mesmo regime de intervenção fisioterapêutica. Os grupos não apresentaram diferença entre si, indicando a que vestimenta especial do Therasuit não é importante para o resultado do tratamento.

- O estudo de Martins (2016) que buscou referências em toda a literatura até o ano 2014 sobre este tema, encontrou apenas 4 estudos de boa qualidade metodológica. A conclusão desses autores foi que há muita variabilidade da técnica e que as intervenções, na forma como são propostas, têm efeito muito pequeno sobre a funcionalidade dessas crianças, seja logo após sua aplicação ou no seu seguimento clínico. Os autores recomendam que os pais tenham cautela na consideração do desequilíbrio entre os ganhos limitados em comparação com o tempo dedicado, esforços com deslocamento e custos envolvidos. Este estudo repete os achados de Frange (2012). Novak et al (2013) em revisão sistemática sobre diversas terapias propostas para PC concluiu que a indicação de Therasuit apresentava fraco grau de evidência. Este mesmo autor em nova revisão sistemática em 2014 sobre os níveis de evidência das intervenções terapêuticas em PC nem mencionou Therasuit e/ou Pediasuit como opções terapêuticas com algum grau de evidência que justificasse a sua indicação.

- Borgneth & Hassano (2015) ressaltam a importância do impacto negativo para a saúde da família do excesso de terapia por causar desorganização na rotina familiar, aumentar o custo financeiro, provocar desgaste emocional com os deslocamentos e reduzir o tempo de atenção para os outros filhos, para o lazer e para o descanso. A metodologia Therasuit exige que a criança faça uma terapia intensiva de duração de 3-4 semanas em sessões diárias de 3 horas por 5 dias na semana.

- Mais recentemente (2017), Almeida et. al conduziram trabalho randomizado de 20 crianças e testaram os protocolos TheraSuit/AdeliSui. Os autores concluíram que em relação aos resultados das atividades o TheraSuit apresentou evidências de qualidade muito baixa não justificando sua indicação.


Conclusão[editar]

As terapias Therasuit e Pediasuit ainda carecem de evidência científica que lhes dêm respaldo e devem ser entendidas apenas como intervenções experimentais, não havendo base científica para a sua indicação e nem mesmo para ser custeado pelo SUS.

Referência bibliográfica[editar]

<ref>1.ABMFR. Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação. Gravataí/RS. Fevereiro de 2018.</ref> <ref>2.ABRAFIN. Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional. Guarapuava/PR. Abril de 2017.</ref> <ref>3.MINISTÉRIO PUBLICO, MG. NT N 040/2018.</ref> Wittig, Ehrenfried Othmar. REABILITAÇÃO NEUROLÓGICA/PEDIASUIT/THERATOGS. Parecer CRM-PR n.º 02/2013 Sessão Plenária n.º 3266, de 20/05/2013 – CÂM II. Curitiba, 2013.