Reabilitação Neurológica

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CONCEITUAÇÃO.

A Reabilitação neurológica diz respeito ao conjunto de técnicas utilizadas para promover recuperação de deficiências secundárias a acometimentos neuronais. Diversas técnicas podem ser utilizadas, dirigidas para as principais desabilidades dos pacientes, viando recuperar aspectos cognitivos, motoras, emocionais, de comunicação, etc. Idealmente deve contar com uma equipe multidisciplinar (médico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo, enfermeiro, etc.) Para tal, deve se dispor um ambiente que motive o indivíduo a envolver-se nas atividades propostas, com os profissionais capazes de lidar com pacientes e familiares, que, embasadas cientificamente, possam adequar as técnicas às peculiaridade de cada paciente. Assim, busca-se capacitar o paciente para funções essenciais para a melhorar sua qualidade de vida, apesar das fisiológicas ocasionadas por doença, tais como recuperar uma função perdida, mas não significa necessariamente a eliminação de uma sequela.

A principal causa de desabilidades são os acidentes vasculares cerebrais (AVCs). o AVC é a principal causa de incapacidade no Brasil com uma incidência anual de 108 para cada 100 mil habitantes, e também é responsável por um número considerável de internações no país, no qual apresenta um alto custo para o governo.


EMBASAMENTO

A reabilitação neurológica é embasada no conceito de neuroplasticidade, bastante estudada nos últimas decádas. Diz respeito a capacidade do sistema nervoso se reorganizarem funcionalmente após uma injúria ou diante de uma lesão, e pode ser estimulada por diferentes técnicas. A neuroplasticidade neuronal é tão instigante que, muitas vezes, um estímulo específico para auxiliar numa desabilidade pode melhorar outra debilidade - por exemplo, estimulos motoroes podendo auxiliar no desempenho linguístico em síndromes afásicas, e atividades físicas prevenindo e mesmo melhorando a


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A família deve ser envolvida no processo de Reabilitação Neurológica - quanto menor for o nível de independência funcional do paciente, maior será a importância de um círculo familiar que tenha condições de aceitar sua reintegração. A reabilitação envolve justamente o conceito básico de desinstitucionalização do indivíduo - ou seja, torná-lo mais independente de inclusive de serviços de saúde.



Reabilitar não corresponde a eliminar eventuais sequelas ou deformidades quando elas são inevitáveis; o objetivo é a conscientização de que existem várias formas diferentes de se executar uma função, e é graças a esta variabilidade que se dá o desenvolvimento dos grupos humanos.

Todos os profissionais envolvidos na equipe de reabilitação devem conhecer o tratamento proposto para o paciente em sua total abrangência, mas cabe a cada um, dentro de suas atribuições, tomar as decisões que lhe cabem no processo terapêutico, sempre levando em consideração a participação do paciente nestas decisões, além da boa comunicação entre os diferentes profissionais. Quanto menor for o nível de independência funcional apresentado por um paciente, maior será a necessidade de individualização das intervenções da equipe de reabilitação, o que requer mais tempo dispendido com cada família, e a necessidade de um volume maior de profissionais na equipe.

A desinstitucionalização tem por objetivo a máxima independência do indivíduo no meio em que vive. Da mesma forma, os domicílios e os locais de trabalho dos pacientes devem ser adaptados para sua correta utilização. Portas e passagens devem ser bem amplas para o deslocamento do paciente com dificuldade de locomoção, e banheiros devem ter barras de apoio para a mobilização adequada das pessoas. A ambientação do paciente é um determinante importante da velocidade e da forma como as estratégias de compensação dos déficits neurológicos adquiridos vão se desenvolvendo. Busca-se, sempre que possível, a adaptação do ambiente ao paciente, e não o contrário.


Diante de um paciente em programa de Reabilitação Neurológica, torna-se importante o registro de seus parâmetros funcionais em cada consulta realizada, por meio de escalas específicas. Isto permite uma avaliação seriada com quantificação da evolução obtida longitudinalmente.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, enquanto condições neurológicas e psiquiátricas são responsáveis por 1,4% de todas as causas de mortalidade e 1,1% dos anos de vida perdidos, estas condições respondem por 28% de todos os anos vividos com quaisquer tipos de incapacidades. No Brasil, estima-se que entre 10% e 20% da população atual seja portadora de algum grau de incapacidade física ou intelectual. Melhorar a qualidade de vida dos pacientes pode contribuir para a prevenção de uma série de doenças crônicas; como exemplos, pacientes que se exercitam melhoram a hemodinâmica e a função respiratória, aqueles que se mantêm lúcidos evitam acidentes e têm menor incidência de fraturas e luxações, e a reeducação da deglutição contribui para a prevenção de pneumonias broncoaspirativas de repetição. Pensando em termos macroeconômicos, o investimento em Reabilitação Neurológica é interessante tanto sob o ponto de vista do desenvolvimento de uma civilização quanto sob o ponto de vista financeiro (a independência funcional elimina a necessidade de cuidadores e aumenta os anos de vida economicamente produtiva).


Entre os inúmeros métodos de reabilitação física, especialmente, por lesões neurológicas, temos os desenvolvidos por Bobath, Doman-Delacato, Rood, Petö, Temple-Fay, Voyta, Phelps, Knott, etc. Cada um, com alguma variação, dentro das suas concepções neurofisiológicas, individualizados, associados ou interligados. Todas as sequelas recentes ou tardias, decorrentes de lesões ou disfunções do sistema nervoso, especialmente o central, ou outros sistemas em qualquer de suas topografias ou etiologias, são passiveis e devem ser submetidas à reabilitação através de métodos e técnicas variáveis, em qualquer idade. Todas as terapêuticas atuantes nas sequelas, têm limitações reabilitadoras porque procuram recuperar, reabilitar disfunções e lesões. O método de Reabilitação Neurológica “PediaSuit” é de concepção mais recente, diz-se desenvolvido inicialmente, pelos russos, para apoio e superação dos astronautas, por apresentarem pela permanência prolongada nos seus voos, sem atividades físicas, dificuldades motoras com atrofias, contraturas musculares, esqueléticas ou articulares. Foram criadas algumas vestimentas em aproximadamente 1970, que receberam gradativas modificações até a evolução atual no “PediaSuit”. Os USA participaram das melhorias, modificações e evolução terapêutica desta parte técnica. A parte da especialidade do método “PediaSuit” (também denominado de "THERATOGS" ou "THERASUIT", de uso mais interessante em crianças entre 01 e 08 anos, tem como componente básico uma vestimenta terapêutica padronizada, um “macacão” composto especialmente para crianças, de uma blusa, colete, short, joelheira, calçado, touca protetora e ainda um conjunto de cordões elásticos de borracha, uma armação retangular, como uma gaiola metálica, quadriculada e quadrangular (spider). As crianças têm a vestimenta ajustada e adaptada com velcros. Os cordões elásticos, aproximadamente 4 de cada lado, sustentam o corpo do paciente, em posição ereta, de bipedestação. Cada fio é mantido preso na parte externa, na gaiola e, o outro, interno na vestimenta da porção corporal, o que permite ao paciente permanecer em bipedestação, manter-se e desenvolver a noção do corpo em pé e coordenação, como de formular a locomoção, assim como, o tratamento fisioterápico de outros movimentos globais ou parciais. A armação permite à criança e, ao fisioterapeuta, atuarem na sua porção central da armação, com sua vestimenta e elásticos interligados, como uma “órtese alongável”, uma “órtese mole”. Cada método, pelas váriações técnicas, pelas diferentes lesões causais, não permitem que seus resultados sejam comparáveis entre si, em virtude das diferentes etiologias, topografias e quadros clínicos em diferentes sequelas. A real frequência das sessões terapêuticas, tem grande influência e importância no resultado, pelo que a aplicação diária ou semanal, proporcionam maior chance de um resultado mais satisfatório, o qual pode ser sempre variável em cada paciente e em cada caso. As dificuldades ou limitações das terapêuticas fisioterápicas ou outras, podem determinar reduções ou limitações dos benefícios. A fisioterapia atua desenvolvendo e melhorando a força, amplitude, alongamento musculoarticular, ação vestibular, equilíbrio, tônus, sensibilidade superficial e profunda (artrestesica ou proprioceptiva), funções dos órgãos dos sentidos, funções cognitivas etc. Através dos exercícios repetitivos, específicos, procura-se desenvolver novos caminhos para as vias anatomo-funcionais do sistema nervoso e de acordo com o objetivo, procurar desenvolver suplências funcionais dos neurônios, tentando também substituir as vias parcialmente comprometidas, melhorar as alterações decorrentes do desuso, da falta de estímulos, pouca ou reduzida atividade na vida diária. Sabemos, que as estruturas celulares nervosas são muito complexas, sensíveis neurologicamente, com funções topográficas específicas e importantes, funcionalmente. As células nervosas são de rara e difícil reprodução, multiplicação ou regeneração, do que decorre ser fundamental evitar-se a lesão. A atuação terapêutica medicamentosa e, especialmente, a fisioterapia precoce, são muito relevantes no processo de reabilitação. O método “PediaSuit” no Paraná ainda está incipiente, embora o Hospital Pequeno Príncipe disponha de um modelo em uso com um fisioterapeuta especializado atuante, como em outras técnicas. Fisioterapeutas aplicam este método e outros por recomendação médica, nas sequelas dos AVC, Paralisia Cerebral, Paraplegias, Hemiplegias, Artropatias, Miopatias, Hipoxia, Traumas, Deficiências mentais etc., ampliando novas indicações. Cada um dos vários métodos apresenta variações do material técnico, acessórios, tendo um custo econômico maior ou menor (como bola, roupagem, sapato, tatame, armações, canulas, orteses, próteses com vários objetivos facilitadores ou apoiadores as disfunções. Mesmo sendo um método útil nas disfunções, o “PediaSuit”, tem boa indicação nas lesões e disfunções neurológicas, mas não devemos relegar a importância que continuam tendo os outros métodos já citados e disponíveis no nosso meio. Os métodos, no geral, utilizam partes, se mesclam, combinam, misturam com associações entre si, de acordo com o interesse específico da disfunção. Os princípios de atuação das técnicas reabilitadoras, da fisioterapia e neurofisiologia, se associam, mesmo tendo variações. A função do corpo humano é sempre igual, variando nas disfunções e lesões. Cada método utiliza mecanismos ou meios que complementam a cinesioterapia, principalmente no alongamento das retrações, osteoarticulares, desenvolvimento da forma e coordenação com acessórios de uso ou treino, de botas, elásticos, roldanas, cordas, roupas especiais, armações, etc. A equoterapia têm sido há anos, usada como complementação à fisioterapia por longos períodos. Quanto mais sessões e variações são programadas e executadas, melhor, em regra os resultados, que devem ter apoio, principalmente, de familiares e técnicos.

Especificamente a Pediasuit, Theratogs ou Therasuit, são meios, como outros, capazes de produzir benefícios aos pacientes limitados neurologicamente, articularmente ou musculusarmente. A associação de elementos (acessórios) em cada método é um procedimento adequado, desejável e comum na prática a bastante tempo. É fundamental que a família seja esclarecida adequadamente sobre os possíveis benefícios e prognóstico da aplicação de qualquer método. Também, que os familiares participem da terapia, além da que seja realizada pelo fisioterapeuta. Ao paciente e família deve ser adequadamente explicado o que lhe será oferecido, a finalidade e o prognóstico, redução do custo, da monotonia da repetição diária. As vezes férias são necessárias. A atuação reabilitadora deve sempre ser aplicada por uma equipe multidisciplinar.(Neurologista, Ortopedista, Fisioterapeuta, Fonoaudiólogo, Terapeuta Ocupacional, Pediatra e Psicólogo), de cordo com as disfunções. Nenhum método é curativo, tem um grau de resolução variável, especialmente, com a intensidade e localização da lesão e, basicamente, sempre a longo prazo. Não existem métodos mágicos ou milagrosos. É o parecer. s.m.j.




REFERÊNCIAS


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